DOURADOS/MS: Simples, humilde, doce Helena me
prende do princípio ao fim. Mas, é tudo que venho tentando encontrar. Me vem a
saudade me fazendo lembrar que agora novos caminhos começam a ser trilhados.
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Foto: Raique Moura |
Êxtase puro. Uma energia
alto astral que emana de cada corpo vivo, pulsante que percorre a arena, entre
cadeiras e enlatados. Uma comédia que brilha nos olhos. Um chapéu de palha de
Itália nunca visto.
Dias antes do espetáculo começar tive
a honra de ser convidado à participar da recepção de um casório, como um
assessor de assuntos aleatórios, ou seja dar uma “ajudinha” na divulgação. Ali descobri
que havia um grupo que acreditava no que estava sendo feito. Uma direção firme,
porém, delicada como toda sessão da tarde merece.
Chega o grande dia, entre
confetes e pirulitos, todos ansiosos para uma entrada ao vivo no maior
telejornal do estado. Ninguém podia errar a mão, era hora de aparecer na globo.
Enfim, no meio de tanta felicidade um acidente: dois colegas
se ausentam; dois colegas saem; dois colegas entram e brilham tanto quanto. Ninguém percebe a troca de última hora. É assim mesmo, o show não pode parar.
Já a noite minutos antes de
começar. Frio, calafrio. Aqui do lado de fora, passa um filme pela minha cabeça,
Marat Sade estava ali novamente. Comecei uma oração em silêncio, pedindo aos
anjos iluminação e que a estrela de cada um daqueles meninos e meninas pudesse brilhar.
As portas se abrem, um baile nos
leva a belle époque, até sinto o cheiro de mirto no ar. Opa, colônia
francesa da melhor qualidade. O baile passou e nem percebi. Olhos atentos a
cada rostinho assustado. A cada gesto fora do lugar, mas dentro de um contexto.
Tanta gente no palco brilhando,
que fica impossível focar em apenas um. Mas é preciso dizer que ninguém foi
desmerecedor desse ou daquele personagem, cada um estava em seu devido lugar.
Entretanto, como não falar da
musicista tresloucada que mesmo em silêncio, abriu todos os olhos de uma
plateia embebecida em sua direção? Como não dizer de um Fadinard a lá Jim Carrey? Uma modista à frente
de seu tempo? Como não se apaixonar pela doce Helena? Aliás, porque toda
mocinha tem que ser chata e chorona?
Todavia, essa mocinha conseguiu ir
além, mesmo chorando ria de si mesma. Sempre que precisava podia contar com o
ombro amigo do primo. Outro ponto alto do espetáculo. Quem nunca teve um primo distante, tão solícito? Bobin, é
você?
Nos tempos atuais, um chapéu de
palha de Itália faria menos barulho. Mas usado sem malícia num passeio com a
bela da tarde, não haverá primo que resista e tão pouco militar que coloque
desordem na ordem do dia.
Enfim, uma deliciosa farsa de
Eugene Labiche e Marc Michel aos olhos de Gina Tocchetto e companhia bela. Só
nos resta um desejo: vida longa aos responsáveis por acreditarem e direcionarem gente simples, humilde além do horizonte.