"Terça feira,oito de dezembro, poderia ser uma terça qualquer, mas desta vez eu não tive
medo e fui sozinho à abertura da SAPECAC... ainda no carro, de longe vi meu casal
de amigos favorito, Clauzer e Isabel, acenamos em uma felicidade esfuziante//
ao estacionar logo atrás de mim estava minha professora orientadora do TCC. Com
a mesma alegria fui cumprimentá-la, carreguei a bolsa do pequeno Daniel, ali no
carro já senti certo nojo de um casal, a dupla passou por mim como se eu fosse
um nada. Mas enfim, sou de quem me quer.
Passei pelo credenciamento, lá o casal de atendente foi de uma simpatia
só, coisas de humanas, pensei comigo. Encontrei o professor Marcos Chaves e
tratei de entregar a bolsa do Danielzinho dizendo que aquilo pertencia a ele.
Fiquei ali pelo corredor nada mais que cinco minutos, mas o suficiente para uma
breve análise de quem chegava. Muita gente nova, muita gente diferente de mim,
muitos me cumprimentavam como velhos amigos. Mas, os velhos colegas de sala
passaram por mim como se ali eu não estivesse. Fui para o auditório tentei ser
o mais simpático possível, pois muitas vezes o problema está na gente, ou pelo
menos, se não dermos o primeiro passo jamais saberemos o que o outro espera da
gente, né? Encontrei com a Tarsila Bonelli, bailarina e agora estudante das
cênicas. Conversamos por cerca de cinco minutos, tempo suficiente para saber
que ela estava se despedindo de uma companhia de dança. Cumprimentei mais algumas
pessoas e vi do lado direito do auditório meu casal de amigos, se a felicidade
tem uma morada está neste casal e é pra lá que eu vou sempre que procuro beber
da sabedoria da vida. Encontrei alguns professores e cumprimentei a distância
outros tantos. Tudo estava dentro do previsto. De repente, vejo que o casal de
esnobe eram nada mais nada menos que o organizador da semana e a convidada
especial do dia. Confesso que me abstive dos preconceitos e ouvi a fala da
professora Beth Lopes do princípio ao fim com muito cuidado, mas algo me chamou
a atenção e também me tirou a atenção. Ela simplesmente leu um release pronto,
feito um mestre dos magos jogou várias palavras difíceis que me fez perder o
tesão. Ao abrir pra fala já não tinha mais interesse em ouvi-la, mas aguentei
firmei. Pouquíssimas pessoas pediram a fala. Uma especial me chamou a atenção,
veio de um garoto de geografia que estava numa semana acadêmica de cênicas.
Apesar da timidez ele conseguiu dizer o queria, muitas dúvidas, muitos
questionamento, mas ele estava preocupado com o Bem e Mal num espetáculo de
rua. A resposta? Deixe rolar, e não se preocupe com o que está acontecendo. Simplesmente
viva. A semana foi boa, teve alguns momentos de tensão, outros de puro puxa
saquismo, mas nada que comprometesse a ideia central. O que me assustou foram
duas mesas de estudos, a primeira da turma de pós graduação. Muito blasé, muito
blablá e a segunda da turma de graduação de vários anos e vertentes. Depois que
cada um fez a defesa vieram os questionamentos. Uma enxurrada de impropérios, o
sujeito que é o coordenador da semana pegou um dos acadêmicos que estava na
mesa e esbravejou sobre stanislavski. No meu ponto de vista, pareceu soberba, arrogância
e falta de preparo, eram apenas garotos pela primeira numa mesa redonda. Sei que
não se pode passar a mão na cabeça, mas é preciso tomar cuidado para não formar
monstros, frustrados com a academia. Enfim, gostei muito da primeira semana que
na verdade era a segunda semana acadêmica de cênicas, já que anos antes tinham
realizado a primeira edição. Mas essa era especial, era a semana feita pela
galera das cênicas. Pra fechar a SAPECAC muita música com a banda “carro velho”,
mesmo sem o batera me esbaldei muito e me apaixonei... Essa é outra história!"
DIREITOS AUTORAIS
Algumas imagens que aparecem no blog são retiradas de sites externos. Se você possui os direitos de alguma dela e não quer que apareça neste blog, favor entre em contato, que prontamente será retirada. (Brena Braz)
domingo, 13 de dezembro de 2015
segunda-feira, 7 de dezembro de 2015
CONVERSANDO COM O NADA
O mendigo ou o cachorro morto, já
deve ter sido encenado centena de milhares de vezes mundo afora. Muitas pessoas
devem ter visto e se questionado tantas vezes, mas nenhuma delas conversou com
o nada, como eu conversei na apresentação de Flint Borck e Pedro Portugal no último dia cinco de novembro na
caixa preta de Artes Cênicas da UFGD.
![]() |
Divulgação |
Bertolt Brecht é um soco no nariz
em cada frase escrita e falada por seus intérpretes. Uns profissionais outros
amadores. Todos com a mesma ideia, chocar quem está vendo. Dizer frases de
efeitos com defeitos. O espetáculo que assisti teve gosto de besouro. Você já
experimentou alguma vez um besouro? Eu nunca, mas é bem por aí. Os besouros nos
fazem pensar, agir, agitar-se.
Flint e Portugal narram o texto por
uma ótica diferenciada. O expectador, quase não vê os atores ou os personagens
em cena, mas sente.
O tom ora mais grave, ora mais agudo chama a atenção para a
cena. Num primeiro momento parece que a gente está em uma gaiola ou debaixo de
uma marquise da grande selva de pedra, e estar nesse lugar apertado, sufocante,
nos dá um gosto estranho de sangue adormecido no canto da boca, um incômodo acomodado.
Por estar preso entre ratos no porão
os personagens nos chama pra cena a cada respirar, não dá tempo de ter devaneios,
puxa-nos para uma epifania. Em alguns momentos esquecia-me que estava na caixa
preta. Não! Eu estava no porão da Alemanha nazista. Essa epifania vai me deixar
louco.
Porém, entre tantos incômodos, um
me chamou atenção, me desconfortou e me chamou para a realidade. Os erros de
tempo da oração, a falta de cuidado com a língua portuguesa. Acredito que
certos vícios de linguagem, quando usado tem que estar no contexto da cena. Infelizmente,
nestes momentos a gente via os atores e não os personagens. Pequenos cuidados
que talvez a falta de tempo, não deu para corrigir, ou a direção optou em
colocar na cena para deixar os atores mais soltos.
A sujeira proposital do porão
sempre nos remetia a Revolução Industrial e volto a dizer, e para uma Alemanha nazista.
Em Certos momentos sentia que estava naqueles comboios de judeus andando sem
rumo no rumo da câmera de gás.
Saber conviver com os ratos, com o
cachorro imaginável, com as luzes, dividir um minúsculo espaço, sentir o hálito
do colega ao lado nos faz pensar: como somos egoístas. Como acreditamos que
somos melhores. O espetáculo é uma bela reflexão do eu, do abandono no fim da
caminhada.
Os instrumentos usados em cena remete-me
as aulas de música e cena dois. Ali pude ver elementos aplicados em sala num
casamento perfeito, por exemplo, um objeto para emitir a fala do personagem, o
bater das mãos na madeira.
O cuidado da direção em
aproveitar ao máximo o talento de cada ator em cena. Horas depois descobri que
essa apresentação também foi salva pelo diretor que chamou a responsabilidade
para si e fez o melhor com o diamante bruto que havia nas mãos.
Enfim, um espetáculo que merece
um olhar especial. Que merece ser visto outras vezes, mesmo sendo assustador
quando a gente se depara com nossos fantasmas. Mas garanto que a dor e a
vergonha de ver o nosso eu estampando no espelho é suportável. É ma bela conversa com o nosso nada.
Assinar:
Postagens (Atom)