Por Gicelma Chacarosqui
OS OLHOS QUE TIVEMOS, peça
teatral de Gina Tocchetto, com texto de Beto Mônaco, protagonizada por Beto
Mônaco, Roberta Ninin e Thaís Costa que estreou no Teatro Municipal no 10 de
junho é ao meu ver um clássico da dramaturgia contemporânea. O espetáculo segundo
a Sinopse que cuidadosamente arranjada no flayer que vem dobrado e entregue aos
que estiveram no teatro, em um envelope, narra a história de Isadora. Isadora
em um território de passagem, em uma zona de transição, com um tempo, lugar
fértil para uma esperança individual e as utopias sociais. A personagem como
espelhos de diversas Isadoras: mães, avós, filhas, pais, irmãos e irmãs. Em que
a soma de todos os passados poderia trazer por vezes o gosto da humilhação, ou
a ilusão do poder. Essas Isadoras são permeadas por conflitos pois são pessoas
humanas que entenderam que “um peixe pode aprender a viver fora d’água se
estiver disposto a morrer tentando”.
![]() |
Foto: Divulgação |
Minha leitura é contaminada pelas minhas
vivências pessoais de vida e de "leituras”: teóricas, literárias e dramatúrgicas!
Não posso deixar de ir além e de me ver ali, como te garanto que todo mundo se
viu "Isadora”, ou “Isadoras”, e projetar também todos os territórios de
minhas vivências de leitura e de leitora. Os espelhos que li, são atravessados
por Lewis Carol e sua Isadora - Alice e de Marina Colassante com sua Ana Z (a
Alice Brasileira) e assim com esses autores geniais refletir: quanto tempo dura
o eterno? Sabemos que este dura apenas o Segundo da cena materializa em “Os
Olhos que tivemos”.
Me vi também transportada em
um delicioso jogo "O Jogo da Amarelinha" como em Júlio Cortaza, que
mostra e nos transporta imediatamente para uma recepção extraordinária nas mais
variadas línguas e latitudes. Em “Os
olhos que tivemos” me deixei transportar para um tempo de rupturas e me vi na
da torre de babel. A relação complexa das personagens, me lembra a vida nossa
de cada dia, a arte da montagem da Gina diretora me remete a Lerman, o texto retalhos
do Beto que me remete ao Trabalho da Citação do Antoine Compagnon. Os olhos que
Tivemos, por toda parte me levou ao novo Dramatúrgico e embarquei meus OLHOS de
LEITORA no novo LER da Dramaturgia Contemporânea. Sim! Assim como lê
Jean-Pierre Ryngaert (livro publicado em 2014). Adoro essa passagem para se
desobstruir qualquer dúvida.
Vamos substituir velhos processos! Inaugurar novos
processos. E por toda parte me vi capturada pelo jogo da Amarelinha desta
montagem, com sua ousadia formal, com seus dois atores inesquecíveis, com seus
personagens apaixonantes, com ISADORA (S) Imperdíveis e sua (s) visão (ões) de
mundo complexa (s) e sensível (is). Vocês tiveram a minha atenção com suas
características detalhadas do jogo. Com o jogo da amarelinha betiano. E as
laranjas? Me levou ao Meu pé de Laranja
Lima de José Mauro de Vasconcelos (1958), traduzido, relido. O livro também foi traduzido para 52 línguas
e publicado em 19 países. Zezé o protagonista também era Isadora.
E o processo de
"Diáspora" do Stuart Hall? Lindo, lindo, lindo..., pois “na situação
de diáspora as identidades tornam-se múltiplas”, fica claro que estamos sempre
em processo de formação cultural que a cultura não é uma questão de ontologia
de ser, mas de tornar-se. Eu percebi em “Os olhos que tivemos”. O jogo da
semelhança e da diferença que li lá em Stuart Hall, e este “é o caminho da
diáspora, que é a trajetória de um povo moderno e de uma cultura moderna” (p.47).
Ah, e a mestiçagem? Gente viajei
na mestiçagem, assim como viajei com os barquinhos que eu fazia quando criança
e soltava em dias de chuva nas enxurradas de Ivinhemacity e chorei!!! Chorei
porque depois muito ensinei meus alunos a fazerem barquinhos e com eles soltava
barquinhos em dias chuvosos... E viajei para o passado, fui até os dias que ia
a casa de minha avó materna e sentava embaixo do pé de laranja e ficávamos eu e
ela conversando e chupando laranja. Minha avó usava tranças e lenço português
nos cabelos. Era uma mulher miúda, muito diferente de mim, descendente de índio
com português... linda... ah como amo minha avó e a lembrança dela...Relembrar
é sofrer? Não, relembrar é viver e reviver!
E, também relembrei que tenho
descendência Italiana, Russa, Polonesa, Portuguesa, Espanhola, e índia (Telles
da Fonseca, Crispim, da Silva, Chacarosqui...)
Claro que teria algumas
críticas, mas até me esqueci delas... quando me vi diante da mestiçagem e
viajei pensando no Laplantine e NOUSS... nem lembrava mais nada das críticas
que achei que tinha, em meio as lágrimas de felicidade...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog é exclusivo para troca de ideias e só você é o responsável pelos comentários postados!