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segunda-feira, 16 de junho de 2014

MEUS OLHOS PARA OS OLHOS QUE TIVEMOS

Por Gicelma Chacarosqui

OS OLHOS QUE TIVEMOS, peça teatral de Gina Tocchetto, com texto de Beto Mônaco, protagonizada por Beto Mônaco, Roberta Ninin e Thaís Costa que estreou no Teatro Municipal no 10 de junho é ao meu ver um clássico da dramaturgia contemporânea. O espetáculo segundo a Sinopse que cuidadosamente arranjada no flayer que vem dobrado e entregue aos que estiveram no teatro, em um envelope, narra a história de Isadora. Isadora em um território de passagem, em uma zona de transição, com um tempo, lugar fértil para uma esperança individual e as utopias sociais. A personagem como espelhos de diversas Isadoras: mães, avós, filhas, pais, irmãos e irmãs. Em que a soma de todos os passados poderia trazer por vezes o gosto da humilhação, ou a ilusão do poder. Essas Isadoras são permeadas por conflitos pois são pessoas humanas que entenderam que “um peixe pode aprender a viver fora d’água se estiver disposto a morrer tentando”.
Foto: Divulgação

Minha leitura é contaminada pelas minhas vivências pessoais de vida e de "leituras”: teóricas, literárias e dramatúrgicas! Não posso deixar de ir além e de me ver ali, como te garanto que todo mundo se viu "Isadora”, ou “Isadoras”, e projetar também todos os territórios de minhas vivências de leitura e de leitora. Os espelhos que li, são atravessados por Lewis Carol e sua Isadora - Alice e de Marina Colassante com sua Ana Z (a Alice Brasileira) e assim com esses autores geniais refletir: quanto tempo dura o eterno? Sabemos que este dura apenas o Segundo da cena materializa em “Os Olhos que tivemos”.

Me vi também transportada em um delicioso jogo "O Jogo da Amarelinha" como em Júlio Cortaza, que mostra e nos transporta imediatamente para uma recepção extraordinária nas mais variadas línguas e latitudes.  Em “Os olhos que tivemos” me deixei transportar para um tempo de rupturas e me vi na da torre de babel. A relação complexa das personagens, me lembra a vida nossa de cada dia, a arte da montagem da Gina diretora me remete a Lerman, o texto retalhos do Beto que me remete ao Trabalho da Citação do Antoine Compagnon. Os olhos que Tivemos, por toda parte me levou ao novo Dramatúrgico e embarquei meus OLHOS de LEITORA no novo LER da Dramaturgia Contemporânea. Sim! Assim como lê Jean-Pierre Ryngaert (livro publicado em 2014). Adoro essa passagem para se desobstruir qualquer dúvida. 

Vamos substituir velhos processos! Inaugurar novos processos. E por toda parte me vi capturada pelo jogo da Amarelinha desta montagem, com sua ousadia formal, com seus dois atores inesquecíveis, com seus personagens apaixonantes, com ISADORA (S) Imperdíveis e sua (s) visão (ões) de mundo complexa (s) e sensível (is). Vocês tiveram a minha atenção com suas características detalhadas do jogo. Com o jogo da amarelinha betiano. E as laranjas? Me levou ao Meu pé de Laranja Lima de José Mauro de Vasconcelos (1958), traduzido, relido.  O livro também foi traduzido para 52 línguas e publicado em 19 países. Zezé o protagonista também era Isadora.

E o processo de "Diáspora" do Stuart Hall? Lindo, lindo, lindo..., pois “na situação de diáspora as identidades tornam-se múltiplas”, fica claro que estamos sempre em processo de formação cultural que a cultura não é uma questão de ontologia de ser, mas de tornar-se. Eu percebi em “Os olhos que tivemos”. O jogo da semelhança e da diferença que li lá em Stuart Hall, e este “é o caminho da diáspora, que é a trajetória de um povo moderno e de uma cultura moderna” (p.47).

Ah, e a mestiçagem? Gente viajei na mestiçagem, assim como viajei com os barquinhos que eu fazia quando criança e soltava em dias de chuva nas enxurradas de Ivinhemacity e chorei!!! Chorei porque depois muito ensinei meus alunos a fazerem barquinhos e com eles soltava barquinhos em dias chuvosos... E viajei para o passado, fui até os dias que ia a casa de minha avó materna e sentava embaixo do pé de laranja e ficávamos eu e ela conversando e chupando laranja. Minha avó usava tranças e lenço português nos cabelos. Era uma mulher miúda, muito diferente de mim, descendente de índio com português... linda... ah como amo minha avó e a lembrança dela...Relembrar é sofrer? Não, relembrar é viver e reviver!

E, também relembrei que tenho descendência Italiana, Russa, Polonesa, Portuguesa, Espanhola, e índia (Telles da Fonseca, Crispim, da Silva, Chacarosqui...)

Claro que teria algumas críticas, mas até me esqueci delas... quando me vi diante da mestiçagem e viajei pensando no Laplantine e NOUSS... nem lembrava mais nada das críticas que achei que tinha, em meio as lágrimas de felicidade...

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