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segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

CONVERSANDO COM O NADA

O mendigo ou o cachorro morto, já deve ter sido encenado centena de milhares de vezes mundo afora. Muitas pessoas devem ter visto e se questionado tantas vezes, mas nenhuma delas conversou com o nada, como eu conversei na apresentação de Flint Borck e Pedro Portugal no último dia cinco de novembro na caixa preta de Artes Cênicas da UFGD.
Divulgação
Bertolt Brecht é um soco no nariz em cada frase escrita e falada por seus intérpretes. Uns profissionais outros amadores. Todos com a mesma ideia, chocar quem está vendo. Dizer frases de efeitos com defeitos. O espetáculo que assisti teve gosto de besouro. Você já experimentou alguma vez um besouro? Eu nunca, mas é bem por aí. Os besouros nos fazem pensar, agir, agitar-se.

Flint e Portugal narram o texto por uma ótica diferenciada. O expectador, quase não vê os atores ou os personagens em cena, mas sente. 

O tom ora mais grave, ora mais agudo chama a atenção para a cena. Num primeiro momento parece que a gente está em uma gaiola ou debaixo de uma marquise da grande selva de pedra, e estar nesse lugar apertado, sufocante, nos dá um gosto estranho de sangue adormecido no canto da boca, um incômodo acomodado.

Por estar preso entre ratos no porão os personagens nos chama pra cena a cada respirar, não dá tempo de ter devaneios, puxa-nos para uma epifania. Em alguns momentos esquecia-me que estava na caixa preta. Não! Eu estava no porão da Alemanha nazista. Essa epifania vai me deixar louco.

Porém, entre tantos incômodos, um me chamou atenção, me desconfortou e me chamou para a realidade. Os erros de tempo da oração, a falta de cuidado com a língua portuguesa. Acredito que certos vícios de linguagem, quando usado tem que estar no contexto da cena. Infelizmente, nestes momentos a gente via os atores e não os personagens. Pequenos cuidados que talvez a falta de tempo, não deu para corrigir, ou a direção optou em colocar na cena para deixar os atores mais soltos.

A sujeira proposital do porão sempre nos remetia a Revolução Industrial e volto a dizer, e para uma Alemanha nazista. Em Certos momentos sentia que estava naqueles comboios de judeus andando sem rumo no rumo da câmera de gás.

Saber conviver com os ratos, com o cachorro imaginável, com as luzes, dividir um minúsculo espaço, sentir o hálito do colega ao lado nos faz pensar: como somos egoístas. Como acreditamos que somos melhores. O espetáculo é uma bela reflexão do eu, do abandono no fim da caminhada.

Os instrumentos usados em cena remete-me as aulas de música e cena dois. Ali pude ver elementos aplicados em sala num casamento perfeito, por exemplo, um objeto para emitir a fala do personagem, o bater das mãos na madeira.

O cuidado da direção em aproveitar ao máximo o talento de cada ator em cena. Horas depois descobri que essa apresentação também foi salva pelo diretor que chamou a responsabilidade para si e fez o melhor com o diamante bruto que havia nas mãos.

Enfim, um espetáculo que merece um olhar especial. Que merece ser visto outras vezes, mesmo sendo assustador quando a gente se depara com nossos fantasmas. Mas garanto que a dor e a vergonha de ver o nosso eu estampando no espelho é suportável.  É ma bela conversa com o nosso nada.

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